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Re-existência negra na arte tecendo história




Re-existência negra, no Rio de Janeiro em 1944 nasce o Teatro Experimental do Negro (TEN) proporcionado por Abdias do Nascimento, militante do movimento negro desde 1930, quando cria o TEN com perspectiva de valorização a cultura, um olhar a politica e visibilizar arte negra, pessoas que fizeram historia e visibilidade como Ruth de Souza, Edison Carneiro, Léa Garcia, Alberto Guerreiro Ramos e outros artistas, ativistas, sociólogos, encontrando diversas áreas.


A criação do teatro foi de suma importância, pois antes do seu aparecimento, já existiam os artistas negros, porém não eram vistos, valorizados, não se sentiam representados. Na época quando precisavam de artistas negros, eles pegavam atores brancos e pintavam seus rostos de preto, uma forma de ridicularizar, assim tirando os papéis que era por direito dos negros - o chamado blackface , nascido nos Estados Unidos, foi utilizado aqui no Brasil também; houve vários personagens famosos com essa características, e usavam como desculpa que não havia artistas negros, onde na verdade, desde dos tempos de Colônia, a maior parte da população era negra.


O Teatro Experimental trouxe a tona resistência do povo negro, pois além de enaltecer, e mostrar que a população negra é conhecedora de sua história, individual e coletiva, trouxe uma visão cosmológica, no - TEN havia concursos, palestras, e várias outras atividades culturais, que possibilitou manter viva a cultura a negra. Quando as aulas de teatro começa, depararam com uma nova problemática, onde as pessoas não sabiam ler, resultado do histórico escravocrata no Brasil, o que deflagra uma nova ação no teatro experimental, onde dá início as aulas de alfabetização a educação de Jovens e Adultos, mostrando assim a sua pluralidade, indo além de pensar no teatro, e sim um espetacular ato de aquilombamento.


O TEN visava a estabelecer o teatro, espelho e resumo da peripécia existencial humana, como um fórum de idéias, debates, propostas, e ação visando à transformação das estruturas de dominação, opressão e exploração raciais implícitas na sociedade brasileira dominante, nos campos de sua cultura, economia, educação, política, meios de comunicação, justiça, administração pública, empresas particulares, vida social, e assim por diante. Um teatro que ajudasse a construir um Brasil melhor, efetivamente justo e democrático, onde todas as raças e culturas fossem respeitadas em suas diferenças, mas iguais em direitos e oportunidades (NASCIMENTO, 2003, p.221)

Acreditamos que por meio da arte foi uma grande realização de resistência

negra, fazendo com que não se esqueçam das riquezas de suas diversidades deixadas por nossos antepassados, como fonte de conhecimento e saber. E assim Abdias, conseguia mostrar com muita leveza e beleza, que é possível proporcionar com a arte, onde ela se renova mas não perde a sua essência.


De fato o Teatro Experimental do Negro foi significativo para a educação. Conforme Abdias do Nascimento:


(...) iniciou sua tarefa histórica e revolucionária convocando para seus quadros pessoas originárias das classes mais sofridas pela discriminacion os favelados, as empregadas domésticas, os operários desqualificados, os frequentadores de terreiros. Com essa riqueza humana, o TEN educou, formou e apresentou os primeiros intérpretes dramáticos da raça negra - atores e atrizes - do teatro brasileiro (NASCIMENTO, 2002, p. 17)

A sociedade luta constantemente contra a discriminação racial, uma das consequência a conquista do movimento negro temos a alteração da LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 que no seu artigo 26 A descreve a lei 10.639/ 2003 que estabelece obrigatoriedade do Ensino de Historia e Cultura Afro-brasileira e Africana nas escolas, é necessário promover uma educação respeitosa igualitária a diversidade, e que estudantes negros sintam acolhido, representados, valorizando o pertencimento histórico.


Para dar continuidade nesse pertencimento histórico e contemporâneo, sobre os espaços de RE- EXISTÊNCIA NEGRA, falaremos de um grupo recente que aponta várias saídas para pessoas negras e periféricas. Periferia Preta é um coletivo formado na Fazenda da Juta, em Sapopemba, Zona Leste de São Paulo, que foi formado em 2013 por artistas e arte- educadoras (es), com um projeto que utiliza a periferia preta como ferramenta de ação social e inserção artística, promovendo espaços de música, teatro, roda de samba, roda de conversas, saraus e etc. Assim promovendo eventos anualmente para o acolhimento de pessoas negras periféricas e TLGBQIAP+.


Podemos ver que o Coletivo Periferia Preta, além de trazer acolhimento, traz outras possibilidades de educação, e o incentivo e a inserção de pessoas negras em uma sociedade que sempre nos enxerga como não capazes de conhecimentos. E arte e a educação, nós aponta outras saídas e novas formas de pertencimento, assim como Abdias via o Teatro como um lugar de resistência negra, o coletivo tem seu espaço e suas ideologias como um lugar de resistência, e uma educação não formal que potencializa seus projetos acreditando na coletividade e em uma arte e educação comunitária que fortalece e respeita a singularidade da comunidade

negra.


E assim, como no tempo de Abdias, o teatro promoveu um espaço de militância, acolhimento e fortalecimento. O Coletivo Periferia Preta trabalha no mesmo propósito promovendo projetos, artes e vivências que fortalecem e promovem uma educação não formal, assim podemos observar que a Arte e a Educação são de suma importância para a formação do ser humano.


Acreditamos que esses espaços não formais como teatro e arte, são significativos para todes: crianças, adolescentes, adultos e os mais velhos, é de grande experiência de formação e pertencimento a representatividade para população negra. Uma vez que os espaços como a escola não nos representam, por diversos fatores, um deles por estarmos numa sociedade patriarcal, universalista, branca, onde não há espaço para o diferente, algo que não seja semelhante, sendo marginalizado e visto como diabólico. Historicamente tudo que é relacionado ao negro brasileiro (pensamentos, relexões, ações…) foi colocado a um lugar subalterno e diminuto perante a sociedade, tirando assim a dignidade e respeito.


Visto que o patriarcado está no poder, dando continuidade com o racismo infraestrutural de forma sistemática, com um projeto de Estado para exterminar a população negra, que resiste à autodestruição construída através do ódio entre os semelhantes com ações físicas e psicológicas.


Uma sociedade que não conhece sua própria história é um crime absurdo, onde formadores de opinião permanecem nesse pensamento arcaico e errôneo, bem como os livros didáticos que reforçam essa pirâmide.


Existir espaços não formais é autêntica re-existência, em que os negro desfruta da liberdade para se expressar por completo, sem constrangimento e com acolhimento, assegurando assim que as raízes da população negra não seja apagada pelo tempo. O Teatros Experimental do Negro proporcionou resistência, tornando possível outros espaço de interação para população negra como o Coletivo Periferia Preta existir.



Obrigada Teatro Experimental do Negro, obrigado Abdias do Nascimento. 
"O racismo no Brasil se caracteriza pela covardia. Ele não se assume e, por isso, não tem culpa nem autocrítica. Costumam descrevê-lo como sutil, mas isto é um equívoco. Ele não é nada sutil, pelo contrário, para quem não quer se iludir ele fica escancarado ao olhar mais casual e superficial." 
Abdias do Nascimento



REFERÊNCIAS


NASCIMENTO, Abdias. Teatro Experimental do Negro: trajetória e reflexões. Scielo, p. 209-224, 5 dez. 2003. Disponível em: https://www.scielo.br. Acesso em: 19 jul. 2021.


Ministério da Educação/ Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientações e Ações para a Educação das Relações Etnico-Raciais. Brasília: SECAD, 2006. 261 pg.; il.


PERIFERIA PRETA, Disponível em: http://www.periferiapreta.com.br. Acesso em: 26 de Jul. 2021


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